quarta-feira, 18 de março de 2009

Fichamento: Diferentes concepções de língua na prática pedagógica

O texto parte do pressuposto de que, para se ensinar Língua Portuguesa, o professor deve ter uma concepção clara do que seja umalíngua e do que seja uma criança ( na verdade, um ser humano, de maniera geral), ao citar Possenti. Conquanto, faz-se obrigatório a análise dos novos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), até porque já trazem em seu bojo teórico discussões linguísticas contemporâneas que tomam o texto como a unidade privilegiada no trabalho pedagógico. Para tanto, é proposto que se reflita sobre concepções de língua e suas consequências para as estratégias a serem adotadas no processo de ensino-aprendizagem.
Desta forma, percebe-se que os objetivos e atividades de ensino são consequência de como se entende o objeto de trabalho Língua Portuguesa:diferentes concepções resultam em diferentes práticas. Assim, considerar o texto como unidade de trabalho pedagógica em língua portuguesa enfatiza a natureza da língua como aatividade simbólica e dialógica. Isto, portanto, favorece ao indivíduo a construção de identidade através do uso da língua e que o texto é o ponto de encontro das diversas habilidades que conduzem a essa construção.
Concepções de língua
O relacionamento entre o objeto Língua Portuguesa e o processo de ensino-aprendizagem caracteriza-se por três "ápices":
1)à concepção de língua como estrutura corresponde uma ênfase na unidade morfológica, ou palavra;
2)à concepção de língua como comunicação corresponde uma ênfase na mensagem, por sua vez constituída estruturalmente pela sentença;
3)à concepção de língua como interação ou atuação social, corresponde uma ênfase na unidade texto que, por sua vez, é constituído estruturalmente por sentenças.
Isto nos chama ao compromisso com uma prática pedagógica não pautada na mera substituição do enfoque dado ao objeto de ensino, antes nos compromete com a reflexão a respeito dos diferentes focos e perspectivas que recaem sobre o ensino de Língua Portuguesa. Contudo, atualmente, o objeto Língua Portuguesa tem seu ensino discutido enquanto prática discursiva. Isto chama a atenção para práticas pedagógicas que priorizem o texto, logo o ensino deve centrar-se numa perspectiva interacional ou discursiva de linguagem. Como resultado, então, ter-se-á o estudante no centro do processo por se considerar a necessidade de constituição da identidade dos sujeitos. Assim a língua se realiza num contexto de práticas sociais, ou melhor, de práticas discursivas.
O trabalho como o texto numa perspectiva discursiva suscita o problema da interpretação, vistto que a língua se estabelece como ato de locução entre sujeitos historicamente marcados. Contudo para Foucault (1996) as condições do que pode e não pode ser dito e, portanto, interpretado encontram-se determinadas, num dado lugar e tempo, pelas práticas discursivas.
Consequências didático-pedagógicas
Estratégias, metodologias que enfatizam o estrutural acabam por não contemplar o profundo redirecionamento do ensino e da aprendizagem do vernáculo quando este é centtrado no texto.
Para Paulo Freire, abordagens de educação promotoras de um profissional compromissado com uma formação além de sua técnica constitue a contrapartida pedagógica para essa concepção dialógica de língua. Citando ainda este educador (id:1990:62) afirma : "o porfessor 'antes de ser profissional, é homem', e como tal deve ser comprometido por si mesmo, 'não pode estar fora de um contexto histório-cultural em cujas inter-relações constrói seu eu' " (id.ib.). Haja vista a importância de tal abordagem discursiva, admite-se, pois, a noção de incompletude do homem, o que se torna a força motivadora pela busca do saber. Tal pressuposto teórico ganha reforço nas palvras de Pimentel (1993:34): "os educadores concebem o conhecimento como processo, espaço conceitual, no qual professores e alunos constroem um saber novo."
Esta discussão apresenta por hora algumas implicações nas abordagens pedagógicas:
(1) a linguagem considrada com mediação simbólica, em que o usuárioda língua se constitui como sujeito, diferenciando-se de "objeto" pelas escolhas no processo cultural; (2) o dialogismo que se instaura na linguagem como trabalho e na ação do homem pela linguagem, para dar forma ao mundo e a ele próprio no seu lugar nesse mundo, com a tomada de consci~encia das opções nesse processo; (3) a interação entre sujeitos históricos (professor e aluno) que ultrapassam, na construção do conhecimento, o que se convencionou rotular de forma e de conteúdo da linguagem.
Já no que concerne à Língua Portugesa, temos:
(1)da ênase na gramática, ou na metalinguagem, para o uso da língua; (2) do privilégio da norma culta ideal de língua para a norma culta convivendo com variantes linguísticas; (3) da leitura e escrita concebida como decodificação e silêncio para a leitura e escrita como compreensão ativa e reflexão crítica; (4) do erro como violação da norma de prestígio para o erro como inadequação situação de uso.
Considerações finais
Uma prática pedagógica que entenda o ensino de Língua Portugesa como atividade discursiva, logo, tome o texto como centro constitue um desafio. Este torna-se ainda maior à medida que percebemos a incompletude da linguagem no cerne de toda a prática. Por hora o professor se ver, então, convidado a desenvolver atividades discursivas o que o compromete com o seu aluno num processo de interação social, visto que passa a tatar o ensino de língua como um processo simbólico e, portanto, histórico.
Bibliografia
COROA,Maria Luiza Monteiro Salles. Diferentes Concepções de Língua na Prática Pedagógica. Revista do GELNE, Vol. 3, nº2, 2001.