terça-feira, 17 de julho de 2012

Ajudando uns aos outros pelo Aconselhamento

O livro Ajudando uns aos outros pelo Aconselhamento aborda o tema aconselhamento em seu início a partir da óptica do discipulado. A princípio destaca a importância da grande comissão para cada cristão e a partir de então discorre com ênfase sobre o caráter do discípulo de Cristo. Para tanto apresenta as características do discipulado: obediência (implica deixar a Palavra de Deus exercer total controle sobre a vida do discípulo), amor (fundamenta-se no exercício do altruísmo), frutificação (consiste em ser um discípulo dedicado ao Senhor de modo a se preocupar com as pessoas investindo tempo, também, na dedicação à Palavra de Deus). Também discute os custos do discipulado. Estes abrangem toda a vida daquele que segue a Cristo: em seus relacionamentos pessoais, visto que Cristo deve ter primazia em nossas vidas mesmo em nossos relacionamentos familiares, o que não significa renegar cuidado à família antes o nosso trato deve ser entendido como um ministério diante de Deus; em suas ambições pessoais, o discípulo deve buscar a vontade do Senhor em primeiro lugar para entender a realização de seus planos; em suas posses pessoais, o seguidor de Jesus deve estar pronto para dedicar seus bens à obra de modo a contribuir com o alcance do evangelho a todos. O autor ainda discute as três responsabilidades do discipulado: testemunhando de Cristo, levando outros à maturidade, fazendo discipuladores. Em cada uma destas, aborda a relevância da continuidade do ministério do discipulado. Ainda apresenta a íntima relação entre o discipulado e o aconselhamento visto como meios de ajudar as pessoas a entenderem o plano de Deus para suas vidas. Para tanto, tece três abordagens ao aconselhamento: humanística-secular, “Deus como ajudador” e Teocêntrica,destacando os pontos mais fortes em cada: que vai da intenção de o aconselhador auxiliar o aconselhando na conquistas de seus objetivos, uma abordagem centrada no homem, até uma abordagem centrada unicamente em Deus, a qual visa estimular o homem na execução de suas atividades conforme a vontade do Espírito Santo. O autor aborda a relevância do aconselhamento bíblico a partir de autoanálise da sua trajetória enquanto recém formado em psicologia. Nos capítulos 2 e 3, o autor aborda três aspectos básicos de ajudar as pessoas, destacando como objetivo de ajuda às pessoas a funcionalidade mais eficaz em sua vida diária o que abrange o todo do ser humano em suas relações com o outro, consigo mesmo no tocante às relações interpessoais e/ou comportamentais. Desta forma, destaca a necessidade de o aconselhador preocupar-se com as emoções, com a forma de pensar e de agir do aconselhado. Assim o livro apresenta seis princípios: (1) primazia à personalidade, aos valores, às atitudes e às crenças do ajudador – destaque para características como amor, empatia, calor e autenticidade; (2) atitudes, motivação e desejo por ajuda por parte do auxiliado – o auxiliado deve ter esperança em melhorar; (3) relacionamento de ajuda entre ajudador e auxiliado – estabelecimento de contato afim entre ambos de modo que possa haver aproximação e confiança; (4) ajuda focalizada nas emoções, nos pensamentos e no comportamento do auxiliado – pensamento, sentimento e ação devem ser trabalhados juntos; (5) a ajuda envolve uma variedade de habilidades de auxílio: escutar, orientar, apoiar, confrontar, ensinar; (6) transformar auxiliados em discípulos e discipuladores – aconselhar envolve ajudar as pessoas em seus dilemas existenciais e espirituais. O autor ainda discute a eficiência de o aconselhamento ter uma abordagem amigável destacando a relevância de um amigo aconselhar outro amigo, assim destaca a importância de um tom informal e até mesmo mais descontraído, o que favorece maior aproximação e, consequente eficiência no processo de ajuda. Assim destaca a responsabilidade que cada cristão tem em aconselhar distinguindo tal responsabilidade de um dom especial. Então destaca alguns aspectos do treinamento de amigos conselheiros: (1) selecionar cuidadosamente os aprendizes; (2) Focalizar-se na Pessoa; (3) Aprender técnicas; (4) Providenciar Experiência; (5) Reconhecer Limitações. Após discutir o aconselhamento amigo para amigo, o livro aborda o aconselhamento durante uma crise seja ela de desenvolvimento ou acidental. Embora se atenha a caracterizar os tipos de crise, o autor orienta como ajudar uma pessoal em crise através do exercício da reflexão, do encorajamento, ainda destaca a importância da obra de Cristo nestes momentos. Em seguida, discorre sobre um tópico pouco explorado nas literaturas de aconselhamento que é a ajuda por telefone. Na ocasião destaca a singularidade da ajuda por este meio de comunicação apresentando vantagens como o não contato face a face para o auxiliado tímido, por exemplo; contudo, isto pode tornar-se problema para o ajudador já que não terá a possibilidade de observar elementos expressivos e importantes para a orientação como olhares, movimentos de tensão, lágrimas, aparente tristeza; cada um destes traços fica perceptível apenas pela fala, entonação ou ausência de conversa e até interrupção brusca de palavra. Assim percebe-se que o aconselhamento por telefone é mais eficiente para alguns tipos de ajuda como socorro a pessoas solitárias que apenas querem conversar, auxílio a vítimas de acidentes no caso de atendimento por policiais ou bombeiros. Ainda se discute como auxiliar um suicida, destacando métodos de abordagens, conversas que devem ser estabelecidas ou evitadas, tratamento interpessoal, encaminhamentos tomados caso necessários e para onde encaminhar, e orientação à luz bíblica se possível – certamente um dos tópicos mais polêmicos e sensíveis. A fim de evitar que os problemas surjam, o autor apresenta a “ajuda preventiva”, partindo de postulados da psicologia e psiquiatria de cunho social, assim orienta que devemos evitar os problemas ou tratá-los antes que se tornem mais difíceis de serem resolvidos. Com isto, abre espaço para abordar a responsabilidade da igreja como um corpo proativo que esteja pronto a ajudar (exortando com calor, empatia, amor e sinceridade), para tanto se baseia em Ef 4; 1 Pe 4:10. Esta primeira parte do livro termina com a discussão de como ajudar a você mesmo. Nesta parte, há a orientação para a ação do Espírito Santo sobre a vida daquele que se dispõe a ser discípulo de Jesus e para tanto deve colar-se como mordomo do Senhor no exercício de seus dons, fazendo sempre a autoanálise e comprometendo-se cada vez mais com a obra no Reino de Deus. A segunda parte apresenta o tema numa perspectiva mais teórica e menos didática, apresentando considerações ao longo do tempo e as linhas teóricas que fundamentam a prática do aconselhamento cristão ou secular atualmente, traçando certo paralelo sucinto ao longo deste último capítulo. Assim este livro contribui sobremaneira para a orientação aos mais diversos tipos humanos nas diversas fases da vida: criança, adolescência, juventude, maturidade, velhice, nas mais diversas situações: orfandade, viuvez, ansiedade diante de problemas financeiros ou de trabalhos seculares, enfrentando luta contra o pecado, problemas conjugais, dificuldades intrapessoais ou interpessoais, dificuldades com a escolha profissional, ou na execução das atividades próprias da escola, suicídio, entre outros. Portanto, esta obra constitui um manual de apoio a líderes eclesiásticos, profissionais da psicologia e/ou psiquiatria, como aos cristãos em geral que pretendem aperfeiçoar-se na área do aconselhamento. Isto porque a obra em análise favorece uma reflexão minuciosa sobre vários aspectos e temáticas que perpassam pela ação do aconselhamento de modo que associa ajudador a ajudado numa relação simbiótica, em que os dois buscam soluções juntamente. O ajudador, por seu turno, não apresenta um manual de soluções práticas, mas antes aprende a tratar com dignidade o auxiliado. Este por sua vez é apresentado como aquele que possui um histórico marcado pelas suas angústias, medos, traumas e, por estes motivos, busca ajuda, tendo em si mesmo muitas vezes a solução. Este livro orienta uma terapia a partir do jogo de perguntas certas para a hora certa diante da pessoal adequada na situação precisa. Ainda reflete a importância da atuação do ajudador amigo, embora reflita os riscos, salvo suas contribuições; apresentando com certa evidência, em tom de conselho, a preocupação com o não envolvimento emocional com a pessoal ajudada. Por outro lado reflete a importância de treinamento especializado para saber enfrentar determinada situações de maior risco. No que concerne ao ofício de líderes de igrejas, o livro oportuniza a reflexão à luz da Bíblia citando vários textos da escritura sagrada, principalmente refletindo o ministério de Jesus Cristo como exemplo a ser seguido como conselheiro destacando sua capacidade de ouvir, motivar, restaurar vidas, sanando feridas existenciais nas almas das pessoas. Portanto, esta obra representa leitura obrigatória para todos que se interessem em aprender como aconselhar, refletindo sobre estratégias, métodos, atitudes diante daqueles que se encontram em busca de auxílio.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Em Cristo precisamos nos (re)unir

Atônito! Assim fiquei após ministrar aula sobre relacionamento interpessoal a uma turma de EBD (Escola Bíblica Dominical). Ao considerar o texto de Filipenses 4, os debates sobre relacionamentos no seio da Igreja do Senhor Jesus asseveraram que há um distanciamento do padrão ensinado pelo mestre. A partir de então surgiu certa preocupação: há urgência de um ensino mais voltado para Jesus! O cristão contemporâneo tem se trancado em si mesmo de modo que o seu bem-estar deve prevalecer sobre o do seu próximo.
Isto demonstra que a ética da igreja contemporânea difere em sua essência daquela do começo da história da igreja descrita em Atos 2. 46: “E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”. Este versículo sugere a satisfação de um grupo altruísta. Um membro preocupado com outro, satisfeito com o outro, amando o outro como a si mesmo.
Ao abordar o tema interrelações pessoais, surge a preocupação com os valores da sociedade em que a igreja se insere. Até porque muitas das representações exteriores do mundo que circunscreve a comunidade cristã são reproduzidas em seu interior. Assim a ansiedade, a necessidade de prosperidade financeira, a preocupação com sua autoimagem fazem com que a pessoa vá ao culto para ouvir o que satisfaz a sua alma. Como afirma Mbewe: “Isto é o que acontece a muitos crentes. Tudo que lhes interessa é desfrutar do culto, do pastor e de sua mensagem”.
Com isto o culto perde seu sentido cristocêntrico e ganha conotação de palestra. É neste contexto que o contato face a face entre os irmãos tende a se restringir a meros cumprimentos sociais. Não há mais momento para “chorar com os que choram”. Então é comum observar irmãos que não se alegram na presença dos outros até porque seus sentimentos parecem não interessar àqueles a sua volta. Que momento a igreja vive!
Neste universo tão relativo, é comum encontrarmos, pois, crentes que atribuam ao evangelho conotação de mera religião, o que o descaracteriza, já que sua essência de proclamação de boas-novas, novidade de vida, perde-se. Isto coloca o anúncio da verdade bíblica em pé de igualdade com qualquer doutrina religiosa. Desta forma as palavras da professora Karla Patriota (UFPE), graduada em Teologia, ratificam este sentimento: ”Hoje, cada pessoa quer uma religião personalizada, que tenha sua cara e atenda às suas necessidades”.
Tudo isto até agora exposto suscita a preocupação, por outro lado, com o crescimento espiritual da igreja. Será que esta preocupação encontra-se no cerne dos púlpitos? Os sermões têm cumprido o papel de ensinar e proclamar a verdade em Jesus Cristo?
Nós cristãos temos que nos preocupar com o crescimento espiritual da igreja como um organismo vivo até porque “o seu crescimento espiritual é o motivo pelo qual Deus deseja que você se torne membro de uma igreja” diz Mbewe em seu artigo Você é um Verdadeiro Membro de Igreja? referindo-se a cada cristão individualmente. Com efeito, faz-se necessário um retorno ao “primeiro amor”. Nossos ouvidos devem estar inclinados à voz do mestre para refletir sobre seus ensinos. Não podemos permitir que nossas igrejas contribuam para difusão de uma fé “insossa”. Já que “no mundo moderno, as pessoas vivem numa quase dúvida eterna, propensas a acreditar em qualquer coisa que se apresente como algo agradável”, como declara o pastor Miquéias Barreto.
O apóstolo Paulo em 1 Co 12.13 diz: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. Com estas palavras aprendemos, portanto, que a igreja de Jesus Cristo tem a necessidade de voltar-se para Ele e entender que nela há vidas que precisam ser protegidas das ciladas do mal. Cada vida desta é única embora seja tão distinta uma da outra. É nesta diversidade que o Senhor se revela em nós e nos conclama a viver como dignos da vocação para qual fomos chamados. Assim a igreja precisa aprender a se defender do mal deste século e amar aos domésticos da fé, de modo que em nós o evangelho do Senhor Jesus seja anunciado.