quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Em Cristo precisamos nos (re)unir

Atônito! Assim fiquei após ministrar aula sobre relacionamento interpessoal a uma turma de EBD (Escola Bíblica Dominical). Ao considerar o texto de Filipenses 4, os debates sobre relacionamentos no seio da Igreja do Senhor Jesus asseveraram que há um distanciamento do padrão ensinado pelo mestre. A partir de então surgiu certa preocupação: há urgência de um ensino mais voltado para Jesus! O cristão contemporâneo tem se trancado em si mesmo de modo que o seu bem-estar deve prevalecer sobre o do seu próximo.
Isto demonstra que a ética da igreja contemporânea difere em sua essência daquela do começo da história da igreja descrita em Atos 2. 46: “E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”. Este versículo sugere a satisfação de um grupo altruísta. Um membro preocupado com outro, satisfeito com o outro, amando o outro como a si mesmo.
Ao abordar o tema interrelações pessoais, surge a preocupação com os valores da sociedade em que a igreja se insere. Até porque muitas das representações exteriores do mundo que circunscreve a comunidade cristã são reproduzidas em seu interior. Assim a ansiedade, a necessidade de prosperidade financeira, a preocupação com sua autoimagem fazem com que a pessoa vá ao culto para ouvir o que satisfaz a sua alma. Como afirma Mbewe: “Isto é o que acontece a muitos crentes. Tudo que lhes interessa é desfrutar do culto, do pastor e de sua mensagem”.
Com isto o culto perde seu sentido cristocêntrico e ganha conotação de palestra. É neste contexto que o contato face a face entre os irmãos tende a se restringir a meros cumprimentos sociais. Não há mais momento para “chorar com os que choram”. Então é comum observar irmãos que não se alegram na presença dos outros até porque seus sentimentos parecem não interessar àqueles a sua volta. Que momento a igreja vive!
Neste universo tão relativo, é comum encontrarmos, pois, crentes que atribuam ao evangelho conotação de mera religião, o que o descaracteriza, já que sua essência de proclamação de boas-novas, novidade de vida, perde-se. Isto coloca o anúncio da verdade bíblica em pé de igualdade com qualquer doutrina religiosa. Desta forma as palavras da professora Karla Patriota (UFPE), graduada em Teologia, ratificam este sentimento: ”Hoje, cada pessoa quer uma religião personalizada, que tenha sua cara e atenda às suas necessidades”.
Tudo isto até agora exposto suscita a preocupação, por outro lado, com o crescimento espiritual da igreja. Será que esta preocupação encontra-se no cerne dos púlpitos? Os sermões têm cumprido o papel de ensinar e proclamar a verdade em Jesus Cristo?
Nós cristãos temos que nos preocupar com o crescimento espiritual da igreja como um organismo vivo até porque “o seu crescimento espiritual é o motivo pelo qual Deus deseja que você se torne membro de uma igreja” diz Mbewe em seu artigo Você é um Verdadeiro Membro de Igreja? referindo-se a cada cristão individualmente. Com efeito, faz-se necessário um retorno ao “primeiro amor”. Nossos ouvidos devem estar inclinados à voz do mestre para refletir sobre seus ensinos. Não podemos permitir que nossas igrejas contribuam para difusão de uma fé “insossa”. Já que “no mundo moderno, as pessoas vivem numa quase dúvida eterna, propensas a acreditar em qualquer coisa que se apresente como algo agradável”, como declara o pastor Miquéias Barreto.
O apóstolo Paulo em 1 Co 12.13 diz: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”. Com estas palavras aprendemos, portanto, que a igreja de Jesus Cristo tem a necessidade de voltar-se para Ele e entender que nela há vidas que precisam ser protegidas das ciladas do mal. Cada vida desta é única embora seja tão distinta uma da outra. É nesta diversidade que o Senhor se revela em nós e nos conclama a viver como dignos da vocação para qual fomos chamados. Assim a igreja precisa aprender a se defender do mal deste século e amar aos domésticos da fé, de modo que em nós o evangelho do Senhor Jesus seja anunciado.